O que fazer em El Calafate, na Patagônia argentina
De uns anos para cá, a Patagônia entrou na rota dos destinos queridinhos de viagem dos brasileiros – e o que não falta são motivos para ir para lá: paisagens de sonho (lagos, glaciares e montanhas nevadas), um câmbio amigável para brasileiros (especialmente em tempos de dólar alto) e é aqui pertinho da gente. Melhor ainda é que a estrutura de hotéis na Patagônia acompanhou essa demanda e cresceu bastante nos últimos anos, com o surgimento de novos hotéis para famílias, crianças, casais, terceira idade e todos os públicos. As atrações turísticas acompanharam essa tendência, o que faz com que a Patagônia hoje esteja muito mais democrática, mas continue sendo muito procurada pelo público aventureiro.
Porém, se o que não faltam são opções para montar um roteiro pelas duas Patagônias, uma boa dica é começar viajando para El Calafate, na Argentina – que, pode-se dizer, é a porta de entrada da região e com uma ótima logística para “montar a base” da sua viagem. E a gente te ajuda, compilando dicas do que você precisa saber para te dar aquele “empurrãozinho” inicial e começar sua aventura patagônica!
O que você precisa saber antes de ir
El Calafate é uma cidade pequena e simpática que se tornou um ótimo “hub” de entrada para a Patagônia, mas que conseguiu crescer sem perder a ternura – nem o charme de cidade serrana que a gente sente logo ao chegar lá. A cidade conta com vários hotéis charmosos para todos os estilos e bolsos: desde confortáveis albergues de aventureiros a hotéis de primeira linha, charmosos e românticos, com vista para o lago e as montanhas da região.
A região central da vila de El Calafate tem também um comércio simpático e que atende muito bem à demanda, com restaurantes deliciosos, lojas de roupas de frio (para quem estiver desprevenido) e de vinhos, chocolates, sorvetes e, claro, o famoso doce de leite argentino. Em tempo: “Calafate” é o nome de uma frutinha muito comum nos arbustos da região, e que se parece com um mirtilo. Ou seja, quando estiver lá tente experimentar as geleias de calafate ou os sorvetes feitos com a fruta.
Mas, ainda assim, as principais atrações de Calafate são ao ar livre, aproveitando as belezas naturais da região – e, também por esse motivo, os melhores meses para visitá-la são de novembro a fevereiro, época do verão, quando o tempo deve estar mais bonito. Por consequência, são também os meses em que a região fica mais cheia de turistas e as coisas ficam mais caras.
Se você me perguntar, o maior destaque de El Calafate são as trilhas para trekking espalhadas na região, em especial nos dois parques mais próximos: El Chaltén e Torres del Paine – tanto que a cidade faz parte do roteiro internacional dos melhores trekkings do mundo. Mas, se andar muito não é a sua praia, não tem problema: hoje a estrutura permite conhecer as belas paisagens da região de carro, de ônibus, ou em confortáveis passeios de barco, acessíveis a pessoas de todas as idades e preparos físicos.
Como chegar e se deslocar
Há um aeroporto a alguns quilômetros de El Calafate; para chegar, há opções de voos da Aerolíneas Argentinas que vem e vão de Ushuaia, Bariloche e Buenos Aires, facilitando o acesso de quem vem da capital argentina. A cidade já é tão acostumada a receber turistas que, além dos táxis e transfers de hotéis, é relativamente fácil contratar um dos ônibus e vans exclusivos que fazem o transporte do aeroporto aos hotéis da região. Nem tente dormir quando chegar: até o caminho do aeroporto à cidade é lindo.
É possível, porém, alugar um carro já do aeroporto e aproveitá-lo para fazer o trecho de lá para a cidade, bem como para ir até as outras atrações, como Perito Moreno ou El Chaltén, por exemplo. Bônus: dirigir não é um problema, pois as estradas são muito boas e com paisagens de fazer a bem à vista e ao coração!
Hotéis e restaurantes
Muitas das atrações em El Calafate incluem passeios de um dia inteiro, então, é bem provável que você só vá jantar na cidade. Não é problema: a região é bem servida de restaurantes deliciosos, com ótima cozinha do tipo comfort food – que é tudo o que a gente precisa depois de um dia inteiro caminhando ao ar livre.
Minha recomendação do coração: experimente o cordeiro patagônico, geralmente assado na brasa e servido à perfeição. Eu, que não sou muito fã de cordeiro, digo sem sombra de dúvida que foi o melhor que já comi na vida. Aproveitando que você já está jantando um dos melhores churrascos da sua vida, aqui vai outra recomendação: aproveite para harmonizar essa delícia com vinhos argentinos – de preferência, tente achar um dos rótulos produzidos localmente, igualmente deliciosos. Minha dica: experimente o restaurante La Tablita (onde encontrei o tal cordeiro), o Don Pichón (outro muito bem recomendado) e o delicioso Esquina Varela.
E, claro, lembre-se de que você está na Argentina e, portanto, vale a pena deixar espaço no estômago para a sobremesa: os famosos doces de leite argentinos são deliciosos de qualquer jeito, mas vêm especiais quando são recheio de crepes servidos nas pequenas lojinhas do centro. Vai por mim: um jantar cordeiro + vinho + sobremesa é a melhor indulgência depois de um dia passeando.
Quanto à hospedagem: se você é do tipo de gosta de bater perna à noite pelas ruas e lojinhas do centro da cidade, procure os hotéis próximos à Avenida Libertador San Martín. Mas, se o que você quer é dormir e acordar com uma vista linda, escolha os hotéis com essa “pegada” mais cênica: o Design Suites Calafate é uma boa opção!
Atrações
Perito Moreno
Todo lugar tem a sua atração principal e Perito Moreno é, indiscutivelmente, a estrela de El Calafate. Não é para menos: trata-se do terceiro maior glaciar do planeta, atrás apenas de Groelândia e Antártida. Uma plataforma percorre uma parte bem pequena do início do glaciar e vale a pena visitar com calma e sem pressa. A vista é impressionante e belíssima, em todos os sentidos, ângulos e poses.
Alguns tours são apenas o bate-volta, com direito ao passeio pela passarela, e outros ainda incluem um passeio de barco, que permite chegar ainda mais perto do “monstro”, e ver essa beleza toda de um outro ângulo. Com sorte, você pode ver um dos pedaços de gelo se desprender – é um espetáculo assustador e belíssimo (e seguro) ao mesmo tempo.
Para quem quiser, há um restaurante no final na passarela (ou início, dependendo de qual “ponta” você começou o passeio) para almoço, café e banheiros. É uma paradinha estratégica e bem-vinda para quem vai com idosos, crianças, ou simplesmente para a hora em que bater aquela fome!
Parque Nacional de El Chaltén
El Chaltén é um pequeniníssimo município, localizado próximo de El Calafate – dá para conhecer em um bate-volta. Ele fica no meio, mas bem no meio, do Parque Nacional Los Glaciares. É também, segundo eles, o povoado mais jovem da Argentina, já que sua fundação oficial aconteceu apenas em 1985. Mas, mesmo com a pouca “idade”, El Chaltén ganhou o segundo lugar da lista das “melhores cidades para se conhecer” publicada pela Lonely Planet em outubro de 2014. Nada mal.
Quem vai a El Chaltén vai encontrar um lugar perfeito para a prática de esportes de montanha, ponto alto da região. As paisagens com lagos, montanhas e glaciares impressionantes atraem visitantes do mundo todo, o que faz com que, ali, a gente descubra que o trekking não é uma atividade muito solitária – mesmo nas trilhas mais remotas do parque é possível cruzar com um europeu, americano ou neozelandês de mochila nas costas e bastão na mão.
Trekking é a atividade mais popular, e há trilhas que duram de dois a nove dias, incluindo rotas a serem percorridas pelos glaciares, com direito aos grampones: solas de metal com ganchos que precisam ser amarradas na parte inferior das botas e que “agarram” no gelo, facilitando a caminhada. Escaladas também são muito populares e, para ambas as atividades, é obrigatória a contratação de um guia local.
Não curte? Você também pode fazer caminhadas, rafting, pesca esportiva e passeios curtos feitos com o suporte de um ônibus, que permitem avistar as belas “agulhas” da região, como o Cerro Torre e o Cerro Chaltén.
Parque Nacional de Torres del Paine
Que tal dar um pulinho ali no Chile e, numa viagem só, conhecer um dos parques nacionais que, com pouca modéstia e muita verdade, é um dos mais bonitos do mundo?
Torres del Paine está mais próximo da cidade de Puerto Natales do que de El Calafate, de modo que, se você pensa em combinar Chile e Argentina, uma dica é seguir de El Calafate para Puerto Natales, esticar algumas noites em um hotel por lá e conhecer Torres del Paine em um bate-volta.
Nota: dá para fazer o passeio saindo de El Calafate também, e eu fiz. Mas aviso: a maior parte do dia você passa na estrada, o que faz a viagem ser bem cansativa. Se você é da turma dos trekkers e pensa em acampar por lá, você pode sair de El Calafate, sim – e aproveitar para fazer o roteiro “W” em Torres del Paine (que leva esse nome porque a trilha se assemelha ao formato da letra).
Seja qual for sua preferência, vale a pena esticar para conhecer o parque: o destaque é a sua cordilheira de montanhas pontudas, ou “chifres” – aliás, o nome deles é esse mesmo: Cuernos.
Há duas opções para conhecer Torres del Paine, e as duas vão depender do seu estilo de viagem. A mais famosa é a pé: seja fazendo a trilha W, seja fazendo parte do roteiro, com equipamentos e um bom sapato, vendo de perto as belezas que o parque tem a oferecer ao longo da caminhada (sem falar da vista especial da fauna local, como condores ou guanacos).
Lindo. Eu queria ter feito esse, mas o tempo, na época, não me permitiu. Fico, então, babando nas fotos dos amigos que fizeram, e que dizem sem pestanejar que foi cansativo, mas maravilhoso.
Eu fiz a outra opção, mais preguiçosa e democrática: no conforto de um ônibus, no city tour do parque. Você vai estar quentinho, com um guia, e só vai parar nos principais pontos do parque, escolhidos estrategicamente, já que é onde as fotos são mais bonitas: a vista dos Cuernos, a vista da belíssima Cachoeira de Salto Grande (que, em dias de sol, te dá de brinde vários arco-íris para suas fotos) e os lagos.
Sim, é uma visita an passant pelo parque, e certamente quem faz trilha vê e vive tudo de forma mais intensa. Mas o tour de ônibus por Torres del Paine foi bastante compensador no quesito fotos e, particularmente, achei interessante porque permite que pessoas sem um bom condicionamento físico desfrutem também da viagem a seu modo. Por isso, acho que esta é uma forma democrática de conhecer o parque. Minha mãe, por exemplo, tem problema nos joelhos, e sempre fico pensando em como eu poderia trazê-la a lugares que visito quando só vejo escadas, ladeiras e trilhas. Esse passeio de Torres del Paine, por exemplo, não seria um problema e ela curtiria bastante.
E a dica final: leve baterias sobressalentes e cartão extra de memória, especialmente se o dia estiver bom: o mais bonito de Torres del Paine, na minha opinião, é o Lago Pehoe, quase no final do passeio. A cor é de um azul absurdo e a vista, encantadora. Para quem está aproveitando a viagem para comemorar algo especial, há um hotel às margens do lago: uma ótima pedida para pernoitar por uma noite e voltar no dia seguinte para El Calafate, de alma e vista leve.