Expedia Team, em January 1, 1970

Entrevista do mês: as melhores formas de mochilar pelo mundo

A princípio parece fácil e barato, depois surgem um bocado de dúvidas e, por fim, aquele friozinho na barriga. Quem pensa que fazer um mochilão é só colocar sua casa nas costas e cair na estrada, se engana, ou pelo menos ainda não conhece a nossa entrevistada deste mês.

A Lívia Aguiar, do blog Eu Sou à Toa, é uma ótima referência quanto o assunto é viagem de mochileiro. Acompanho seu blog e suas aventuras faz um tempão e gosto muito do jeito com que ela compartilha suas experiências e perrengues de peito aberto.

http://eusouatoa.com/

Então na entrevista desse mês, batemos um papo franco pensando principalmente em quem sempre teve vontade e curiosidade de viajar de mochila, mas ainda precisava de um empurrãozinho extra.

Quando e por que você começou a mochilar?

A primeira vez que fiz um mochilão foi em 2008, já sozinha. Estava em Assunção, capital do Paraguai, de intercâmbio pela UFMG, e decidi viajar pela região antes de voltar para Belo Horizonte, minha cidade natal. Conversei com algumas amigas que moravam comigo e já tinham viajado e elas me ajudaram a montar um roteiro pelo norte da Argentina, Bolívia e Peru e marquei meu voo de volta pra casa por Lima ao invés de Assunção.

Eu tinha 2 mil reais para fazer essa viagem de 1 mês e, na época, até sobrou um dinheirinho! Escolhi viajar assim porque queria cair na estrada sozinha, tinha pouca grana e vi que não era tão complicado quanto parecia na minha cabeça. Vi como minhas amigas, uma alemã e outra argentina, viajavam tranquilas com a mochila nas costas e me inspirei nelas.

Foi uma experiência cheia de borboletas na barriga. Estava bem “presa” ao roteiro que minhas amigas tinham me ajudado a desenhar na primeira semana de viagem, depois fui entendendo como fazer para me virar, encontrar lugar pra ficar, contratar passeios, pegar dicas com outros mochileiros e fui relaxando. Não quis mais parar de viajar assim, é muito libertador e custa pouco 🙂

Quais foram as experiências mais marcantes que você viu na estrada nesses anos todos?

Nossa, foram muitas experiências maravilhosas desde 2008 pra cá. Acho que as mais marcantes foram quando encontrei pessoas maravilhosas que não teria conhecido se estivesse viajando de maneira “tradicional”, com roteiro fixo, hotéis todos reservados e tours definidos. Para mim, viajar é conhecer pessoas, tanto locais quanto viajantes. Me conectar com a forma que elas vivem, ouvir e aprender com quem mora ali há anos, trocar histórias, gastronomia, e experiências de vida.

Uma das experiências mais marcantes foi conhecer uma família de beduínos em Petra, na Jordânia. Conheci a matriarca no ônibus a caminho do sítio arqueológico mais famoso da Jordânia e ela me convidou para ficar em sua casa. Eu não sabia, mas ela morava num assentamento de beduínos meio longe da cidade, mas vi que seria fácil ir embora usando o sistema de caronas que é bem comum na Jordânia, então não senti nenhum medo.

Foi incrível! Ela, seu marido e 5 filhos me acolheram em sua casa, compartilharam de sua comida, me apresentaram pra todos os parentes, me levaram para Petra pelo caminho dos beduínos (sem passar pela porta de entrada), e, estando lá, conhecia todo mundo que trabalhava vendendo artesanato, pois eles eram os parentes e vizinhos da família que me acolheu. Me senti como se estivesse em casa. Foi inesquecível. Conto mais sobre a história no blog: http://eusouatoa.com/como-conheci-uma-familia-de-beduinos-na-jordania-ou-o-poder-sim/

Para quem nunca colocou uma mochila nas costas, quais seriam os primeiros passos para organizar uma viagem? Quais itens você recomenda que sejam adquiridos antes de sair de casa?

Acho que a melhor forma de organizar um mochilão é pesquisando as possibilidades de passeios e lugares imprescindíveis que você quer visitar antes de sair de casa, o que você não quer perder na viagem.

Hospedar-se em hostel (albergue) é legal porque você conhece outros mochileiros, troca informações sobre como fazer os passeios de forma mais barata, faz amizades, companhias para passear pela cidade (e se a pessoa for chata, você dá um perdido nela ou fala que quer ficar sozinha).

Eu reservaria as hospedagens, tendo em conta uma localização que seja ideal para percorrer a cidade a pé ou de transporte público.

Fora o passaporte, vistos, vacinas obrigatórias e recomendadas e um bom seguro de viagem, o mais importante de comprar antes de sair de casa é um mochilão! Um que não machuque suas costas, que esteja adequado pra sua altura, que caiba o que você quer levar, mas que não seja grande demais, enfim… seja seu companheiro de aventuras!

É bom também escolher sapatos, que sejam confortáveis e que você já usou bastante – nada que seja novo e tenha chance de machucar seus pés. Caso queira levar uma bota de trekking (se for fazer muitos trekkings na viagem), recomendo comprar uns meses antes e colocar ele pra andar e dar bolhas nos seus pés antes de viajar.

Eu também gosto de levar aquelas toalhas de secagem rápida que ficam bem pequenas na bolsa. O resto, se você esquecer basta comprar na estrada: adaptador de tomada, itens de higiene pessoal, roupas… Aliás, é bem legal ir no supermercado, farmácia e mercados quando viajamos. Melhor ainda se for pra comprar alguma coisa que você já vai usar e estrear na estrada.

Fiz esse vídeo que mostra meus critérios pra escolher um bom mochilão e minha técnica de arrumação pra não ficar com tudo bagunçado e perdido lá dentro:

Existe algum destino que combina mais com mochileiro de primeira viagem?

Acho que a Gringo Trail na América Latina (tem no Lonely Planet, ela vai da Argentina ao Equador, passando pela Bolívia e Peru) e a Banana Pancake Trail do Sudeste Asiático (Tailândia, Laos, Vietnã, Camboja) são muito fáceis pra começar um mochilão, porque muuuuuuitos mochileiros fazem essas trilhas.

Tem muito albergue bom e barato, muita estrutura de tours e ônibus que te levam pros lugares turísticos legais, muita gente conhecendo as mesmas coisas na mesma sequência de viagem, aí você acaba encontrando as mesmas pessoas nos diferentes lugares que você vai.

Dependendo do ritmo que você viaja, algumas ficam para trás e você as encontra semanas depois em outro país, é muito louco. Acaba parecendo que você está viajando com todas essas pessoas, dá um ar de familiaridade ainda que você esteja viajando num lugar que nunca conheceu antes. E é fácil conhecer gente muito legal que está querendo fazer os mesmos passeios que você e decidir viajar junto com eles por dias ou semanas.

Hoje em dia, tendo já viajado pela Gringo Trail (na Bolívia e Peru) e pela Banana Pancake Trail (também um pedacinho só, no Norte da Tailândia, Laos e Camboja), eu quero é fugir dessas cidades “hubs” de mochileiros. Mas para começar, é um bom jeito de se sentir à vontade ao mesmo tempo que está explorando um lugar com seus próprios pés. Ainda que fuja desses “hubs”, é sempre bom descansar neles depois de uma parte da viagem cheia de voltas por um lugar mais afastado da rota turística onde ninguém fala uma língua em comum com a sua. É tipo “voltar pra casa”, mas em outro país.

Outro roteiro comum é mochilar pela Europa, né? É mais caro e não tem uma rota definida, existem milhares de possibilidades de caminhos a percorrer de acordo com os seus interesses, mas como é um continente em geral muito seguro e que tem muita informação sobre ele em filmes, séries de TV, livros, sites e blogs, tem gente que se sente mais à vontade para arriscar uma viagem sozinha nesses países.

Alguma dica de segurança ou cuidado extra?

Acho que as principais dicas de segurança são as mesmas em qualquer lugar, seja em casa ou viajando… não dar trela pra quem não te passa confiança, cuidar da sua intimidade e do seu espaço pessoal, estar sempre de olho na sua carteira e outros pertences (não é porque é Europa que tem que relaxar com isso, Barcelona e Amsterdã têm muitos casos de furto, por exemplo), duvidar de pessoas que apresentam soluções fáceis pra você (tours magicamente baratos, ingressos vendidos no meio da rua, agências baratas que parecem muito capengas etc) e confiar no seu instinto, sempre.

Eu tenho uma regra: se você fala “não” pra uma pessoa e ela insiste, invade meu espaço, eu me afasto e não lhe dou mais confiança. Eu sigo essa regra em qualquer lugar que estou, seja em BH ou Bangkok.

Cuidados extras:

Eu sempre levo um cadeado com chave na mochila para trancar meus pertences mais valiosos em lockers nos hostels. E quando eles não têm um lugar seguro, levo tudo comigo (dinheiro, passaporte e cartões) numa doleira, dentro da minha roupa. Fica feio, mas ninguém enfia a mão pra pegar, a não ser que seja um assalto né. Mas aí, não tem nada que a gente possa fazer…

Em caso de roubo ou furto, é importante ter um cartão ou dinheiro extra em outro lugar. Eu levo um cartão na carteira e outro na doleira, assim como um dinheiro em espécie para o caso do cartão ser bloqueado.

Sempre armazeno também as minhas informações importantes na nuvem (email, dropbox, algo assim), pro caso de eu precisar: números dos cartões e da central de atendimento, telefone e número da apólice de seguro contratada, cópia de passaporte, identidade e outros documentos.

Acho importante também fazer um seguro de viagem e ir ao um centro de medicina do viajante para fazer um check-up de tudo que você precisa para viajar em termos de saúde (vacinas obrigatórias e recomendadas para as regiões que vai visitar como cuidados de prevenção especiais em alguns países).